
Made in Halewood
Cauã Reymond dá carona para Exame VIP durante o test drive do novo Range Rover Evoque, na Grécia
Flavio Sampaio, do Peloponeso
Nunca tive tantos carros na vida. São sedans, hatches, SUV’s e até esportivos. Centenas deles. Há seis meses vendi meu carro e passei a me locomover apenas com taxis, caronas e aplicativos. Nada melhor para sobreviver numa São Paulo com quase 9 milhões de veículos.
Sentado no banco de trás, pude testar uma porção de modelos diferentes – sempre como passageiro. Minha única preocupação é em relação ao motorista. Uns correm demais, outros teimam em falar sobre política, alguns ouvem funk pancadão. Confesso que nada supera a sensação de chegar ao meu destino e ver o carro desaparecer para sempre.
O zeitgeist de hoje é não dirigir.
Foi com isso em mente que viajei para a Grécia para testar o novo Land Rover Evoque – no banco de trás, obviamente. Ao volante, o ator Cauã Reymond, embaixador da marca no Brasil desde 2016. “Eu amo dirigir. Amo tanto que quando mandam um motorista me buscar para uma gravação, peço para ele ir no banco de passageiro”, diz o uber-global.
Lançado em 2011, o Evoque revolucionou a categoria de SUVs compactos no mundo. Uniu design, potência e conforto como nenhum outro. Foi o primeiro carro da marca inglesa a imprimir de fato uma nova personalidade à Land Rover, conhecida originalmente por seus carros quadradões, montados com chapas de ferros unidas por rebites aparentes. “Difícil não é criar um carro do zero mas redesenhar um carro que já vendeu 300 mil unidades ao redor do mundo”, explicou Gerry McGovern, designer todo poderoso da montadora.
Foi ele quem criou também o último modelo exclusivo, feito à mão, para a Rainha Elizabeth. Aberto na parte traseira para que seus súditos possam vê-la, o carro na cor vinho passou por uma inspeção minuciosa da própria rainha, logo após seu 90º aniversário. “Ela ficou mais de meia hora olhando o carro”, diz McGovern. “Só reclamou do peso da porta que, convenhamos, ela jamais terá de abrir”, diverte-se.
Poucos conhecem tanto da marca quanto ela. Apesar de não precisar de carteira de habilitação (está na lei inglesa), Elizabeth dirige desde 1945, quando auxiliou as tropas inglesas durante a II Guerra. Foi treinada, inclusive, para resolver problemas mecânicos.
De volta ao test drive grego, trechos de estrada foram combinados com percursos nada convencionais. Meu motorista seguiu impávido ao volante, aproveitando-se da versão top de linha, equipada com motor de 2.0 Ingenium turbo de 300 cv, o mesmo do Jaguar F-Type. A montadora promete trazer também o motor de 250 cv com versões mais baratas e menos equipadas.
Assim como a rainha, Cauã é velho de guerra quando se fala de Land Rover. “Sou tão fã da marca que fui eu quem eu pediu para ser embaixador”, diz. Em geral é o inverso que acontece. Antes mesmo de ser contratado para acenar para os súditos tupiniquins, o ator já dirigia os carros preferidos da realeza britânica. Já teve uma Defender, uma Discovery 4 e agora pilota um Range Rover Sport HSE.
“Esse novo Evoque parece um Velar menorzinho. Os faróis, a grade frontal, as maçanetas embutidas...”, explicava o motorista metido a taxista. Para mim pouco importava. Valia mesmo a (boa) trilha sonora escolhida pelo ator e o conforto de quem estava sentado atrás olhando para a vista espetacular das montanhas sendo devoradas pelo mar Egeu.
Ao invés de seguir o Waze, como fazem os motoristas que eu costumo chamar pelo aplicativo, Cauã acompanhava o percurso pelo sistema de navegação do carro. A nova tela de 10 polegadas permite também visualizar o piso à frente do carro, como se o capô fosse invisível. A novidade ajuda tanto na hora de manobrar como na direção dos pneus – fundamental para situações off-road.
Isso ficou claro quando tivemos que percorrer terrenos acidentados, com direito a cruzar um riacho e atravessar o estreito de Corintos sobre uma ferrovia desativada. Minha vontade foi gritar “Vai Corintos!” mas se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida de passageiro é não falar nem de futebol e nem de política.
O Sistema Dinâmico Adaptativo, também inédito, usa sensores para calcular suspensão, velocidade das rodas e nível de aderência. Basta escolher os diferentes tipos de solo (pedra, lama, neve...) que o carro se adapta.
O mais estranho do novo Evoque é o retrovisor. Ao invés do tradicional espelho, uma câmera envia as imagens captadas para uma tela de LCD. Segundo Peter Binghan, mecânico responsável pelo novo projeto, esse sistema permite aumentar o campo de visão para 50 graus. É uma versão digital daqueles espelhos curvos usados por taxistas desde os anos 1980.
A viagem segue e o papo também. Apesar não oferecer nem balinhas ou água, o motorista era simpático e atencioso. Falamos de trabalho, família, economia, surfe, cinema e viagens. Quando ovelhas cruzaram nosso caminho, ele gentilmente pediu para parar. “Tenho que fazer um vídeo para a minha filha”, disse abrindo a porta e correndo em direção aos caprinos. “Olha só que foooofos, toisa mais linda fiiiiilha”, derretia-se saudoso de Sofia, de seis anos.
O Evoque desembarcou no Brasil em outubro de 2011. O modelo caiu nas graças dos brasileiros mais endinheirados a ponto da Land Rover produzi-los localmente. Isso aconteceu apenas entre 2016 e 2018, quando a matriz britânica decidiu suspender os investimentos que chegariam a R$ 750 milhões na fábrica de Itatiaia, no Rio.
Quem quiser um novo Evoque terá de desembolsar entre R$ 270 mil e R$ 320 mil e esperar até julho, quando os primeiros automóveis desembarcarem no Brasil. Coincidentemente o modelo dirigido pelo ator e dublê de motorista é produzido somente em um lugar: Halewood, Inglaterra.
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